Território 1
A sanitarista, assessora da SEPROMI e coordenadora nacional executiva do Fórum de Mulheres Negras, Iubiraci Maltides de Jesus, defendeu a criação de uma Secretaria Municipal de Combate ao Racismo em Camaçari. Segundo ela, depois de anos de retrocessos, o município passa por um processo de reconstrução — e isso exige políticas públicas firmes para enfrentar o racismo estrutural e institucional.
“O racismo anula os valores da cultura negra. O Brasil foi o último país do hemisfério ocidental a abolir a escravidão, e ainda precisamos continuar os movimentos abolicionistas para combater as mazelas deixadas pela Lei Áurea”, afirmou.
Iubiraci também reforçou a necessidade de desconstruir visões racistas historicamente enraizadas. “As ideias de Nina Rodrigues, que criminosamente afirmou que pessoas negras tinham propensão à criminalidade, ainda ecoam hoje. Por isso estamos presos à armadilha de tantos assassinatos de jovens negros.”
Consciência racial deve começar nas escolas

A sanitarista destacou que a construção de uma sociedade antirracista começa na educação básica.
“É na escola primária que precisamos ensinar consciência racial às crianças. A maioria da população negra vive em casas mal construídas, enfrenta desigualdade e racismo institucional. Sem educação antirracista, o problema se perpetua.”
Valorização dos garis como agentes da saúde pública
Iubiraci chamou atenção para a falta de reconhecimento dos trabalhadores da limpeza urbana.
“Os garis são promotores da saúde. Eles fazem muito mais do que catar lixo. É preciso valorizá-los como parceiros do sistema de saúde pública”, afirmou.
Saúde da população negra: urgência em Camaçari
A coordenadora defendeu também a implementação efetiva da Política Estadual de Atenção à Saúde da População Negra, com foco em humanização, acolhimento e combate às microagressões.
Ela destacou que problemas como burnout, depressão e ansiedade atingem a população negra de forma desproporcional, como consequência direta da discriminação, da precarização do trabalho e da autocobrança excessiva provocada pelo racismo.
“Viver em estado constante de alerta adoece o corpo. Muitas pessoas negras carregam o medo diário de sofrer discriminação.”
Dr. Renard Bonfim: “O encontro foi fundamental para pensar práticas verdadeiramente antirracistas”
Para o Dr. Renard Bonfim, presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB – subseção Camaçari, e coordenador de regionalização metropolitana da Comissão da Advocacia Negra, o momento tem significado histórico para o município.
“O encontro foi fundamental para discutir caminhos, políticas e práticas que promovam uma sociedade verdadeiramente antirracista. Não é apenas debate, é construção de futuro”, destacou.
Dr. Valdo Ayinon: “Graças à solidariedade social, minha família hoje tem um advogado negro”
O Dr. Valdo Ayinon, coordenador do Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela, da SEPROMI, reforçou a importância de políticas de inclusão e reparação.
“Graças à solidariedade social, minha família hoje pode dizer que tem um advogado negro. Esse é um símbolo do que políticas públicas e redes de apoio podem transformar”, afirmou.
“Uma secretaria em Camaçari promoveria, ao menos, a inclusão simbólica”, diz Iubiraci
Para Iubiraci, a criação da Secretaria de Combate ao Racismo não é apenas uma pauta administrativa, mas um compromisso histórico de reparação.
“Uma secretaria promoveria, ao menos, a inclusão simbólica — e isso já seria um marco importante. É tempo de corrigir. Se dizem que ‘a coisa está preta’ porque está boa, então é hora de transformar essa força em política pública real.”



